
Pena
Han passou o dia tendo sensações perturbadoras, calafrios e mal-estar, sabia que algo maligno se proliferava enquanto cumpria seu expediente na delegacia de crimes digitais, onde o número crescente de denúncias de golpes digitais crescia vertiginosamente, não conseguiu parar para almoçar, fosse pelo acúmulo de trabalho, ou pelo estômago revirado.
Quando o expediente terminou, Han já estava pálido e suando frio, sua dependência química pelo Alcool já o consumia, a vida era mais bela ou menos triste quando o álcool aquecia suas entranhas e entorpecida sua mente.
Saiu da delegacia direto para o bar, onde finalmente se alimentou de pão líquido… Uma garrafa litrão e um quibe generoso foram o suficiente para se acalmar e a sensação de mal-estar passar, restando apenas a opressão de saber que o mal ganhava forças todos os dias e que hj alguma batalha importante fora perdida. Dava desculpas para si mesmo dizendo em sua mente que fazia seu trabalho dentro da lei, todos os dias, mesmo que isto não fosse o suficiente.
Retornou para seu pequeno e discreto apartamento de uber, atento, caso fosse abordado por algum criminoso na rua, em seu lar tomou uma pequena dose de Black Label e foi para o banho quente, ali permaneceria até a sensação desconfortável passar, mas não aconteceu, a pressão no peito ainda incomodava, em certo momento acreditou estar tendo um ataque de pânico ou algo pior e assumiu a forma Glabro enquanto deitava de toalha amarrada na cintura direto no sofá.
Ligou a tv para ver as notícias e uma chamada despertou seu interesse, um evento político sobre a inauguração da nova empresa de tratamento de água, esta notícia fez seus sentidos aflorarem e a pressão no peito diminuir.
Vestiu seu jeans escuro, calçou o coturno preto, pegou a camiseta preta favorita, e a japona militar preta, seu coldre axilar e a insígnia de detetive da Polícia Civil, todos itens dedicados.
Fez sua Pickup Hilux, cabine dupla, turbo, na cor Cinza Naval, com rodas e pneus off-road, com Santo Antônio, Quebra Mato com Guindaste Elétrico e Faróis de Milha, rugir na garagem subterrânea até as ruas da cidade movimentada, se dirigiu até o centro de exposição onde estacionou em alguma vaga permitida. Acionou os alarmes e adentrou ao evento, a insígnia estava no peito sobre a japona, a pistola STI (Strayer Tripp In) 2011 .45 com Dot e Lanterna, no coldre, com mais dois carregadores extras, a faca Tanto e a espada Katana, absorvidas como tatuagem nas costas.
Uma rápida sondada pelo resinto e a aquisição de uma caipiroska de manga, o fez encontrar alguns conhecidos se reunindo no fundo do centro de exposição, embaixo de árvores, nas sombras.
Quando lá chegou, encontro Bóris e Dante, dois Senhores das Sombras Lua Cheia, e o Caolho, um Roedor de Ossos que quase todo mundo conhece, estes estavam comentando sobre a sensação desconfortável que todos tiveram o dia inteiro, quando, ouviram gritaria e parte de uma baia de estábulo desmoronar, uma das últimas baias com iluminação acesa.
Jovens saiam de dentro do estábulo de exposição feridos e sangrando, Bóris correu abrindo caminho e Han foi logo atrás, com Caolho prestando atenção aos feridos tentando entender o que aconteceu e Dante, um pouco mai atrás analisando o que via.
No estábulo um jovem coberto de sangue murmurava algo, Bóris se aproximou mas o jovem gritou para não se aproximar, ele não estava ferido, ele era o Agressor, os corpos de outros dois jovens estavam retalhados e irreconhecíveis.
Boris olhou e perguntou para Han se ele poderia cuidar da criança e Han consentiu, Han sabia que Boris iria agredir o adolescente até seu nocaute, mas Han faria o mesmo, Han ativou sua Visão Crepuscular e viu uma sombra abraçando o jovem na penumbra, então decidiu ir para o mundo dos espíritos. Do outro lado Han viu uma Grande coruja com seu corpo mais, humanoide.
Han: — Olá espírito da Coruja, eu sou um Garou, como posso ajudá-la?
O espírito respondeu que o jovem que ela tentava acalmar também era um Garou, seu protegido…
Han: — Me permita ajudá-lo e te ajudar, me mostre como…
A coruja buscou uma de suas penugens próxima ao peito e a entregou ao Theurge dos Andarilhos do Asfalto.
Han: — Eu devo deixar isto próximo a ele, ou devo fazê-lo portar consigo, ou ainda fazê-lo engolir?
A coruja disse sim, e depois de um tempo com ambos em silêncio, ela terminou a frase, faça-o carregar consigo.
Han agradeceu e retornou ao plano dos vivos levando consigo a penugem.
Quando retornou o jovem já estava mais calmo e Caolho aproveitou a fenda na realidade para levar o garoto para a Penumbra, no mundo material Han pediu para Boris pegar um dos corpos enquanto ele arrastava o outro e juntos, levaram as provas também para a penumbra enquanto escutavam as vozes de Dante discutindo com dois seguranças.
Na penumbra Han quase foi cegado por uma das lanternas dos seguranças, pois ele enxergava ambos os lados da trama, os Segurança encontraram sangue e parte do estábulo desabado e foram reportar a situação no escritório central, Dante então vendo que seus colegas não estavam nas baias foi em direção a saída e depois em direção ao seu carro, um Jaguar sedã com motor à combustão.
Na penumbra foram até o parque das crianças a cerca de 300 metros de onde estavam, ali no lago lavaram o adolescente e Boris, ambos banhados em sangue, Han só precisou lavar as mãos, lá o nipo-brasileiro entregou a penugem ao adolescente e o fez enquanto procurava a face da lua, uma noite sem sua presença indicando que o guri era um Ragabash, um trapaceiro, questionador das tradições.
Já fora da penumbra e andando de volta para o centro de exposições, Dante, em seu carro, avistou o grupo e estacionou próximo, mas uma velha apareceu das sombras, ela chamou a atenção de Dante e Caolho, quando começaram a questionar a índole da velha, Han comentou que não era necessário, a velha era Dona Ágnes, uma Theurge conhecida como parteira nas comunidades podres.
Ela viu o garoto e dele se aproximou, resmungou umas palavras, num tom baixo de mais para serem ouvidas, mais parecendo grunhidos…
Quando ela terminou dona Ágnes perguntou sobre o patrono do menino de quinze anos aparentes, e Han mandou o garoto retirar a penugem em seu bolso, ele o fez e dona Ágnes murmurou mais algumas palavras colocando a pena em seu bolso, Han então disse a dona Ágnes:
Han: —Dona Ágnes, se o garoto não precisar desta pena ela é minha, pois foi a própria Coruja quem a me deu!
Dona Ágnes desconversou e quando viu que Han não a deixaria ficar com a pena ela imediatamente a queimou e incensou o garoto.
Dali foram para a nova Empresa de tratamento de Água, Caolho imediatamente invadiu o lugar, enquanto os outros foram avistar o complexo de cima de uma ponte ao lado da estrutura, lá o jovem Jonny e Boris tramaram um plano simples e, infalível na mente deles, de adentrar ao complexo, Han e Dante continuaram a observação, Han, mais uma vez usou de sua visão crepuscular, observou as águas da represa contaminada sendo coletada para a construção, as árvores, antigos filhos da clareira já estavam sendo contaminados e se tornando filhos da corrupção, fazendo dos antigos aliados novos inimigos.
Meia hora passada Caolho acabou colocando fogo nos escritórios e Boris e o jovem Jonny matando o vigia da guarita, ações suficientes para fazer Dante e Han irem embora, sabendo que agora a empresa seria fortificada contra futuras agressões, invasões.